domingo, 14 de dezembro de 2008

Se o sonho se repete...

Somos seis mulheres a falar de sonhos, pelo menos uma vez por semana, reunidas quase como uma sociedade secreta. Nosso propósito é esse mesmo, de levar para nosso encontro semanal, em nossos preciosos cadernos, as histórias que nos são contadas enquanto dormimos e que, ao acordar, nos despertam exatamente a pergunta que dá título a este blog: que sonho é esse?! E é no grupo que a inquietação do mundo onírico encontra seu espaço para se colocar, reservando-se a cada uma um tempo para contar seu sonho e “viajar” por todas as possibilidades que ele oferece.

Uma situação no grupo que nos chama a atenção, sempre, são os sonhos que repetem um mesmo tema. Pouca coisa traz tanto desassossego para o sonhador quanto a repetição de um tema. Voltar para o curso secundário, ou para a faculdade, por exemplo, é uma circunstância bastante comum no sonho de homens e mulheres, mesmo quando na vida concreta eles já cumpriram essa etapa há muito tempo. Às vezes, já concluíram até pós-graduação, com mestrados brilhantes, e lá vem o sonho cobrar alguma coisa que ficamos sem aprender!

No nosso grupo, uma das sonhadoras tinha um sonho repetitivo, que a levava sempre de volta à cidade onde nasceu e viveu até a metade da adolescência. Para quem tem sonhos do tipo, de voltar no tempo em alguma situação, a dica é se perguntar: em que tempo vivi naquela cidade? Que idade eu tinha? Como eu me relacionava com as pessoas que aparecem no sonho? Como eu me sentia emocionalmente naquele tempo do passado? Responder a essas perguntas pode nos dar a pista para aquilo que o sonhador precisa rever nele mesmo.

Por exemplo, digamos que o sonhador, hoje, é uma pessoa de 50 anos. Por que, então, ele volta naquele tempo e circunstância de quando tinha 15 anos? O que foi que não amadureceu e que dificulta que se tome uma atitude para resolver o que se apresenta hoje, na idade madura? Por que o sonhador se refugia psicologicamente naquele tempo lá, onde ele podia contar com a proteção da família e o aconchego desses afetos? Quais medos rondam o seu desenvolvimento emocional e impedem que ele assuma as responsabilidades que a vida do presente está exigindo?

Quando o inconsciente nos manda sonhos como o exemplo acima, ele nos pede essa reflexão sobre nossos comportamentos, para que possamos resolver dinâmicas de vida que estão emperradas no presente. Mas estão emperradas porque em algum aspecto continuamos refugiados nas bolhas protetoras que um dia nos sustentaram, mas que hoje já não nos servem. E se nem assim, com esse pacote de recados do mundo dos sonhos, não fazemos nenhum movimento para quebrar o padrão que nos limita, pode se seguir um outro cutucão do inconsciente. Ele nos “manda” de volta para o curso secundário... ou para a universidade ... ou nos coloca para fazer uma prova e esquecemos tudo... ou não achamos a sala da prova...

Enfim, o que não falta para o inconsciente é um jeito de dizer que precisamos avançar, mas que isso só será possível se aprendermos a lição que ele nos apresenta. Não é fácil para ninguém. Não é fácil entender o recado e, muito menos, decodificar a mensagem. Mas quando damos ao mundo interno a “resposta” certa, ele nos presenteia com novos horizontes, novas famílias, novos projetos. Ele abre portas para a consciência mais ampliada, mais sábia e mais pronta para trabalhar os sonhos que continuarão chegando.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Os sonhos, como mensageiros de cura

Como já disse por aqui, meu interesse por sonhos levou-me não apenas a anotar os meus próprios e acompanhar sua evolução, mas também a procurar orientações que melhor me fizessem entendê-los. Durante os sete admiráveis anos que vivi em Brasília, conheci gente que foi fundamental para o meu desenvolvimento em todos os campos da vida: emocional, psicológico, físico, afetivo e profissional.
Cláudio Caparelli e Mirella Faur, meus xamãs tão queridos, são pessoas emblemáticas desse tempo de descobertas, transformações e curas. A mexicana Rosalina, outra xamã de rara sensibilidade, também foi uma condutora a me levar pelos caminhos do autoconhecimento.
E Wânia Alvarenga, a sonhoterapueta junguiana cujo texto reproduzo a seguir, foi também uma presença marcante para a minha necessidade de respostas, em um período em que os sonhos vinham em meu socorro. Wânia me acolheu, orientou, ampliou comigo as imagens oníricas que, seguramente, ensinaram muito sobre minhas circunstâncias.
E dia desses encontrei na web este texto de Wânia, que reproduzo por ser oportuno, porque certamente poderá facilitar a compreensão de um símbolo muito presente nos sonhos (o carro) e, faço questão de ressaltar,pela seriedade com que ela realiza seu trabalho como junguiana.
Acessem o link e conheçam Wânia Alvarenga.
http://www1.uol.com.br/bemzen/ultnot/esoterismo/ult492u40.htm







segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O que a menstruação tem a ver com pesadelos?

A pesquisa é da University of the West of England e conclui que as mulheres tendem a ter mais pesadelos e sonhos emotivos do que os homens. A responsável pela pesquisa, Jennifer Parker, adianta que o ciclo menstrual pode ser o grande culpado por essas manifestações, porque este é um período em que a temperatura do corpo fica alterada. Além desses dados, que particularmente me chamaram a atenção, há outros que valem a pena passar pela avaliação de quem acompanha este blog.

O acesso é:

http://minhavida.uol.com.br/materias/hotnews/Mulheres+sao+as+maiores+vitimas+dos+pesadelos.mv





Longe de mim querer contestar o estudo feito com 170 voluntários lá na Velha Albion, mas eu não ficaria mesmo quieta diante do resultado de uma pesquisa que joga no ciclo menstrual a razão de sonhos assustadores. Fiz uma enquete nada científica com as amigas e nenhuma associou os pesadelos ao período de menstruação, ainda que para muitas de nós esse período seja mesmo um “pesadelo”: cólicas, mau humor, dor nas pernas, dor de cabeça e diversos outros sintomas que, no conjunto, dão lugar à temida TPM.

Como as minhas entrevistadas não relacionaram menstruação e pesadelos, isso me deu ainda mais suporte para levantar algumas perguntas: e quem não menstrua não tem pesadelos? homens não têm esse tipo de sonho? e nos outros dias do mês, os sonhos são lindos e "bonzinhos"?

Primeiro, não existe sonho bom e sonho ruim. No meu entender, existem os sonhos que nos inquietam e os que nos trazem conforto. Os pesadelos estão na primeira categoria. São eles que nos despertam aos gritos, com palpitações, às vezes nos colocam em lágrimas e em outras, ainda, nos dão a sensação nítida de que levamos um tiro, uma facada, que matamos alguém, que nos espatifamos com o carro, que perdemos todos os dentes ou que alguém que amamos morreu.

E querem exatamente isso: acordar-nos para algo que ainda não percebemos! Assim faz o inconsciente conosco quando não damos a menor bola para o que ele vem contando. Digo que um pesadelo é como uma carta-bomba, cujo conteúdo a gente não tem mais como ignorar. Ou seja, a mensagem é esta: ei, você, não faça de conta que não está entendendo! Acorde e faça alguma coisa!

Às vezes, arrastamos situações que já venceram... um casamento, um trabalho, um grupo, uma cidade, uma casa... E por mais que sejamos inundados por sonhos que revelem nossa impotência (em mudar o que já perdeu energia) ou nossa arrogância (insistimos em levar adiante porque “sabemos” como administrar o conflito), ainda assim não acolhemos os sonhos que vêm noite após noite, até que despenquemos do mais alto precipício e acordemos em pânico, sacudidos por um pesadelo.

Pode ser um exercício interessante observar o período menstrual para confirmar se a pesquisa faz sentido. Mas por mais atentas que estejamos àqueles dias, não vamos deixar de olhar o pesadelo como um aviso que o inconsciente nos manda para que despertemos, para que prestemos atenção a algo que por alguma razão já se desencaminhou dentro ou fora de nós.



quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Qual espetáculo você está vivendo?

Depois de tantos anos contando meus sonhos em terapia e ouvindo de um sem-número de pessoas as incríveis histórias que vivem no sono profundo, ainda me encanta o fato de os sonhos nos fascinarem tanto. Nos registros dos meus próprios sonhos, tem de tudo um pouco: já “apareci” cheia de piercings em uma festa; já empacotei eu mesma meu próprio corpo; perdi a conta de quantas vezes corri nua pela rua e quantos amores remotos deram as caras (e, às vezes, também as cartas!) nos meus sonhos.
Dos que confiaram a mim suas viagens oníricas ouvi também relatos de extraordinária criatividade! Assim, acordadinhos, conseguimos imaginar um navio que anda na rua? Ou que planamos sobre os prédios, sem asas e sem qualquer direção? Dirigir um carro no mais absoluto escuro, respirar no fundo do mar, estar grávida ou menstruar quando a natureza já encerrou esse ciclo para a sonhadora... A lista é interminável e cada episódio oferece material suficiente para um roteiro de filme feliniano!



Por serem assim fantásticas, intensas, ousadas e impossíveis é que essas imagens ou cenas oníricas nos arrebatam. Para o ego, limitado e racional, isso é coisa de louco e, se assim é, para que levar isso em conta? A tendência de grande parte das pessoas é descartar esses enredos bizarros, desprezando um material revelador de nós mesmos e orientador para a vida acordada. Sequer paramos para refletir como a vida se torna interessante sob a perspectiva do sonho! Sequer nos permitimos um certo desvario para fazer a pergunta (quase proibida) que não quer calar: e se eu corresse nua pela rua, o que aconteceria? Se levo adiante a conversa comigo mesma, posso até concluir que correr nua é mostrar-me como sou, é estar exposta, é despir-me de certos valores (roupa, sapato, acessórios)... E seguir caminhando por esses atalhos e becos das perguntas para, quem sabe, desembocar em ruas mais largas da compreensão de mim mesma.
Gosto de John Sanford (Os Sonhos e a Cura da Alma – Editora Paulinas, 1988), quando diz:
“... viver sob a orientação dos sonhos é viver como alguém que esteja sob constante instrução. Às vezes, os sonhos simbolizam muito diretamente o que estamos dizendo. Sonhamos, às vezes, que estamos indo a um teatro para ver um espetáculo; isto é, para ver nosso próprio drama interior se desenrolar”.
Qual tem sido o seu espetáculo? Ele merece aplauso, tem despertado riso, lágrima, inquietação? Ou tem sido tão sem graça que você não o recomendaria nem para o mais tolo dos passantes?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O homem sinistro invade o seu sonho

Poucos temas assustam tanto uma mulher quanto ser perseguida nos sonhos por um homem ameaçador. Quase sempre, pelos relatos que tenho ouvido e pelos casos que leio, esta figura aparece como um assaltante, um bandido, ou apenas um homem sem identidade e que tem uma postura agressiva, que assusta e intimida. Eu mesma já tive sonhos assim e, quase sempre, me faziam acordar muito amedrontada. Ao revê-los, hoje, e olhando as datas em que ocorreram, percebo que eles “traduziam” situações que eu estava vivendo no mundo concreto e que me traziam, de verdade, inquietações.
Dia desses, passeando por uma das comunidades de sonhos do Orkut, havia um pedido quase desesperado de uma mulher para que alguém a ajudasse com um sonho. Ela contava:

“Tenho tido sonhos constantes com alguém me perseguindo e, literalmente, querendo acabar comigo! Apesar de acordar e passar o dia com uma sensação péssima, eu rezo, peço proteção a Deus e pronto. Só que no último também tentavam acabar com meus filhos. Aí, me preocupou! Preciso muito de ajuda. Depois do sonho, me sinto impotente, desmotivada, fraca mesmo. Há 4 anos fiquei viúva”.

E deixei meu recado para a sonhadora, explicando que este sonho é muito característico de momentos que nós, mulheres, vivemos em determinados tempos da vida. O homem nos sonhos das mulheres nos fala de um aspecto da psique que Jung chamou de animus[1], a dimensão masculina não desenvolvida na psique feminina. No caso, falando de um “perseguidor”, esse animus adquire uma qualidade negativa, figura que pode ser melhor compreendida no conto de fadas O Barba Azul.

No entanto, esses movimentos psíquicos têm uma razão de ser. O animus negativo (ou invasor, ou predador) aparece em várias circunstâncias e uma bastante recorrente é quando nós, mulheres, temos que assumir mudanças em nossas vidas, quando temos que empreender novos projetos e enfrentar novos desafios. O aparecimento desse perseguidor pode, então, querer nos dizer que não nos sentimos capazes de processar essas mudanças, e isso por inúmeras razões, desde as emocionais até as culturais e sociais.
Certos valores difundidos em nossa cultura - por exemplo, uma mulher separada ou viúva não consegue estruturar sua vida sem um parceiro – e totalmente equivocados podem repercutir negativamente na psique feminina e minar a autoconfiança de uma mulher. Neste momento de dúvidas ou de baixa-estima, o predador aparece e amedronta. Mais do que nunca, a postura da mulher tem que ser firme no sentido de se conscientizar de suas qualidades, seu potencial, sua criatividade e sua capacidade de enfrentar e resolver a nova proposta de vida que se apresenta. É um chamado para ela “acordar” e tomar sua vida nas mãos.
Sempre reforçando que um sonho não se esgota em uma única ampliação, deixei meu recado para a sonhadora do Orkut chamando sua atenção para o fato de que, em algum sonho desta série, também os filhos dela estão ameaçados. Ou seja, aquilo que é fruto da criatividade da sonhadora, aquilo que ela é capaz de criar e nutrir está agora ameaçado, e ela pode estar se questionando nesse momento (até porque ela relata que os sonhos começaram depois que ficou viúva) se vai dar conta da situação.
Dúvida, medo, angústia e outros sentimentos que nos enfraquecem ou desvalorizam é um campo propício para o predador dar as caras, minar a autoconfiança feminina. Como um habitante natural da psique, como energia que é da psique, o animus negativo sempre estará à espreita de um momento em que possa atuar. Portanto, deve ser tratado com sabedoria. E finalizo com uma observação de Clarissa Pinkola Estes, em Mulheres que correm com os lobos (Ed.Rocco):
“Os sonhos com o homem sinistro são também campainhas de alarme recomendando que prestemos atenção a algo que se desencaminhou radicalmente no mundo exterior, na vida pessoal ou na cultura coletiva”.

[1] “Nossa natureza contrassexual é personificada nos sonhos como uma figura do sexo oposto ao nosso” (Marie-Louise von Franz, O Caminho dos Sonhos, Ed.Cultrix)

O filho nasceu e também é seu

Como analisar (ampliar e interpretar são outros termos usados para o mesmo fim) um sonho quando não se tem conhecimento da linguagem específica? Não há uma resposta única que atenda uma pergunta de tamanho porte, pois ela envolve o conhecimento do complexo simbolismo que brota do inconsciente. Mas podemos (e devemos!) prestar atenção ao sonho, cuidar dele como algo que sabemos ser precioso (e é!), mesmo sem ter idéia de quanto vale.
Comece anotando seu sonho. Tenha um caderno para isso e escreva com a riqueza de detalhes que puder identificar, relate depois as impressões que aquela vivência deixou em você (tristeza? raiva? medo? serenidade?), pois esta é uma ferramenta eficaz para fazer você “voltar” ao mundo interno e pescar nesse imensurável rio que é o inconsciente aquela cena mais marcante, aquela situação mais desconcertante...
Feito isso, conte seu sonho a alguém que o ouça com respeito. Mesmo que esse ouvinte não tenha nada para dizer sobre a sua narrativa, por não saber opinar ou por não entender nada mesmo, ele terá dedicado a você um tempo, terá acolhido sua inquietação ou seu deslumbramento. E o inconsciente “saberá” que você se importou com a historinha que ele lhe contou. E mais: que você, do seu jeito, respondeu àquela tal cartinha que ele se ocupou em escrever especialmente para você.
Com essa breve orientação – mas deixando claro que um sonho não se esgota em uma única ampliação – você pode agora acompanhar-me naquela “viagem” que fiz para Londres, na madrugada que antecedeu o nascimento desse texto. A cena do sonho abre com uma rua de Londres, onde estou junto com outras pessoas, inclusive meu filho. Estamos na expectativa porque Dani, minha nora, vai dar à luz. Não há tensão; apenas uma espera para algo que vai acontecer.
Eis uma situação que o inconsciente está propondo, e para entender melhor o sonho é fundamental que o aproximemos (ou ampliemos) da nossa própria realidade. A minha, naqueles dias que antecederam o sonho, era colocar no ar um texto sobre o assunto. Um tema que vivencio, que estudo, que leio e, acima de tudo, que acredito, mas que nunca tinha sido alvo para um trabalho que se propõe a ser rotineiro e exposto à compreensão externa.
Então, ao aproximar o sonho do meu momento, a associação que faço com Londres, uma cidade no estrangeiro, é que embora eu a conheça no mundo concreto, ela não está no contexto da minha realidade cotidiana, não tenho com Londres uma intimidade, não é por ela que eu circulo. Neste território ainda novo para a minha consciência (Londres é o símbolo para algo desconhecido = blog sobre sonhos), um nascimento vai acontecer.
Enquanto se aguarda esse desfecho, vejo uma mulher que canta e penso que eu teria mais sucesso do que ela porque cantaria música brasileira. Ou seja, se eu “cantar”, se eu expressar minha habilidade de forma genuína (escrever sobre algo que conheço), terei sucesso, vou agradar! Quando admito para mim mesma uma autoconfiança em minha habilidade ou talento, vem o chamado que anuncia o nascimento.
Para atingir o andar de cima desse ambiente desconhecido, e acompanhar a Dani no momento do parto, eu me espremo por uma passagem muita estreita, que neste momento de reflexão (acordada) associo com um “canal de parto”. Eu mesma no esforço de atingir uma nova camada da consciência, eu mesma nascendo para uma nova tarefa do ser. Perceba que sequer o pai da criança é chamado, porque este é um trabalho do feminino. Gestar e fazer nascer são tarefas do feminino e para lá me encaminho.
Eu (ego onírico) e Dani, ela representando um aspecto meu jovem e fértil, e que na vida concreta se fez filha do meu amor, estamos agora juntas e posso participar do nascimento em curso. Ao acolher seu corpo e “acalmar” sua barriga, estou inteira receptiva ao acontecimento que está prestes a marcar profundamente a minha vida, pois mesmo num sonho, ajudar um ser a nascer é extremamente mobilizador e por isso, certamente, desperto tão emocionada. No mundo concreto, eu estava pronta para “parir” um texto sobre sonhos e dá-lo a você.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Histórias que o inconsciente nos conta

Você já acordou muito perturbado por causa de um sonho que lhe tirou o sono o resto da noite? Ou, ao contrário, despertou com a sensação de flutuar, só porque as imagens deixadas pelo sonho levaram você muito perto do Paraíso? Certeza que sensações assim estão registradas na sua memória, porque todo mundo já foi assombrado alguma vez por um sonho inquietante, ou já ficou “perseguindo” ao longo do dia aquela historinha (tão boa!) que o sonho contou.
Porque é mais ou menos assim que o sonho acontece: uma história que o inconsciente nos conta, bem lá do jeito dele. E é tão do jeito dele que, ao acordar, tem-se a impressão que vivemos uma piração, uma viagem, que normalmente provoca um comentário típico: “nossa, tive um sonho tão esquisito!”
E eles são mesmo esquisitos. Para entender por que a linguagem onírica é tão única e, em princípio, indecifrável, é preciso saber que os sonhos brotam do inconsciente mais profundo, um território distante da consciência do ego, que só enxerga o aqui e agora e para quem pão é pão e queijo é queijo.
Quando o inconsciente está escrevendo suas cartinhas para nós (como diz Marie Louise von Franz, psicoterapeuta e discípula de Carl Jung), o pão pode ser muito mais (um símbolo de nutrição, o que sacia todas as fomes, o que me leva a confraternizar e a agregar), e o queijo... ah, o queijo! Outro tanto mais. E tudo tem que ser percebido no contexto do sonhador: o pão já estava pronto? Alguém amassava o pão? Ou você comia o pão? Quanta coisa se pode questionar a partir de um pão!
Por isso os sonhos nos confundem, Eles encerram uma mensagem que diz respeito ao sonhador, que só fará sentido para ele, e assim mesmo se ele conseguir se livrar das “traduções” imediatas e confortáveis do ego e dedicar-se a desvendar o quebra-cabeças para o qual está sendo convidado. Nada de “sonhei com pão então vou receber uma herança”, desviando por uma rota pobre e muito aquém dos tesouros que o inconsciente guarda.
Na madrugada seguinte a ter iniciado esse texto, tive um sonho que ilustra bem quão simbólica é a mensagem do inconsciente. E faço questão de contar aqui porque ele veio para me ajudar a concluir esse “parto” de palavras e idéias.

Estou em uma rua de Londres (onde moram meu filho e minha nora), com meu filho e mais algumas pessoas. Sabemos que Dani vai dar à luz e estamos esperando. Não sei onde ela está, exatamente, mas sei que está por perto. Olho pela vitrina de um bar e há uma mulher cantando. Não ouço a música, mas sei que ela está cantando. Penso: “se fosse eu a cantar, certamente faria mais sucesso, porque cantaria música brasileira”. Nisso, ouvimos um chamado ou um gemido de Dani e sei que é a hora. Entro em uma casa, e estou em uma escada, porque sei que ela está no andar de cima. A passagem é muito estreita para eu chegar em cima, mas consigo me espremer e chegar lá. Dani está meio de cócoras, meio curvada. Ela usa um vestido longo, com estampa floral delicada, muito jovem. Eu me coloco por trás dela, recosto seu corpo no meu e vou fazendo com que relaxe, com que respire melhor. Eu passo a mão sobre a sua barriga redondinha e vou conversando com o bebê: “pode vir, não tenha medo... está tudo bem... seu papai espera por você”. E por sob o vestido dela vejo uma mistura de bracinhos e perninhas despontando. Acordo, ofegante de emoção, às 3 da manhã!

Um parto! Finalmente, de dentro de mim, algo podia “nascer”!
Mas para você entender porque tem a ver comigo e com o meu momento um sonho que traz uma rua de Londres, uma cantora que eu podia superar na sua arte, uma nora grávida e um parto, finalmente... espere até a próxima quinta-feira. Convido você a passear comigo pelo mundo dos sonhos, mensageiros que acompanham a história do homem desde que um dia ele abriu os olhos neste mundo.